04/06/2009

Tertúlia Vitor Pereira


VÍTOR PEREIRA
Foi considerado o 4.º melhor árbitro do Mundo em 2001 e o 10.º em 2002. Foi eleito seis vezes como o "Árbitro do Ano".
Conta no seu currículo com 176 jogos arbitrados nas 1ª. Divisão Nacional e I Liga, 104 jogos internacionais e 26 jogos entre selecções Nacionais "AA" - Insígnia Especial da FIFA.
Esteve presente nos Campeonatos do Mundo de França (1998), da Europa - Bélgica/Holanda (2000), do Japão/Coreia (2002), e da Alemanha (2006). Dirigiu finais da Taça de Portugal, Taça Intertoto da EUFA, Super Taça Europeia da EUFA e Taça EUFA.
É detentor da Medalha de Ouro ao Mérito (Câmara de Oeiras) e "Prémio Carreira Desportiva Nacional", entre muitas outras distinções.
Vítor Pereira esteve no Casino Figueira, em tertúlia moderada pelo jornalista desportivo David Borges e explicou aos presentes o que pensa da actual arbitragem e apontou caminhos a seguir.

"Não há futebol de qualidade sem árbitros de qualidade", disse no princípio da sua intervenção, no Salão Caffé do Casino Figueira, o actual Presidente da Comissão de Arbitragem da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).
O actual quadro competitivo distrital comporta cerca de 3.000 árbitros, um número insuficiente para à quantidade de jogos disputados neste escalão do futebol nacional. Cerca de 8.000 "seria um número aceitável", considerou o responsável da Comissão de Arbitragem.
"O futebol não consegue captar os jovens", disse Vítor Pereira justificando com a existência de um mercado concorrencial mais apelativo, como as discotecas e outros entretenimentos. Acresce ainda o facto de que "há muito pouco para oferecer a estes jovens de 14 a 18 anos de idade".
A retenção é outro problema apontado. Um estudo realizado em 2001, na zona de Lisboa, dá conta de uma taxa de abandono na primeira actividade da arbitragem na ordem dos 65%. Os horários dos cursos (pós-laboral), a falta de acompanhamento, um ambiente adverso e hostil são as causas identificadas.
O terceiro problema prende-se com a formação, ou melhor, a falta dela. O curso inicial de árbitros compreende 30 a 40 horas de duração, sendo que 80 a 90% é de teor técnico, sobre as leis do jogo. A inexistência de uma formação contínua é outro entrave à permanência na actividade.
No top 10
Respondendo a questões do público presente, Vítor Pereira garantiu que "os nossos árbitros (da Liga) são os que melhores condições têm". Quanto ao silêncio que reina entre os árbitros em relação a públicos comentários de jogos efectuados, o Presidente da Comissão de Arbitragem da Liga explica que "é um imperativo da FIFA, que não permite e que pede aos árbitros para que sejam o mais discretos possível".
Refira-se que Portugal conta com nove árbitros internacionais e 10 assistentes, encontrando-se entre os cinco primeiros países do mundo com mais representações. Entre as 207 federações de futebol, 27 países inscritos na FIFA, "Portugal está no top 10 da qualidade".
Quanto a possíveis sanções disciplinares tão reclamadas pelos "treinadores de bancada" e adeptos em geral, Vítor Pereira foi claro na resposta: nenhum jogador é penalizado por errar um passe. Nenhum treinador é sancionado por errar na escolha de um determinado jogador. "Por que hão-de os árbitros serem sancionados por errar? Não há nenhuma profissão onde não se erre. Guilhotinar os árbitros, nesta sociedade, não existe", considerou Vítor Pereira para quem "os árbitros perfeitos só na Playstation".
Ainda neste particular, defendeu os árbitros novatos na medida em que "temos árbitros que no início de carreira e do ponto de vista técnico, são "juniores" na sua actividade, pelo que temos de ter o mesmo grau de tolerância com eles".
Durante esta tertúlia Vítor Pereira defendeu ainda que "o problema da arbitragem não são os regulamentos, mas as pessoas, especialmente se forem mal intencionadas". Na sua opinião, "em Portugal as pessoas não são desportivas, são clubistas".

As 10 medidas
As soluções também foram deixadas nesta tertúlia promovida pelo Núcleo de Árbitros da Figueira da Foz - dirigido por Armando Nascimento - que no próximo dia 20 de Junho celebra o seu 22.º aniversário.
Vítor Pereira elencou as 10 medidas consideradas por si como prioritárias para alterar o actual cenário da arbitragem nacional:

1.º - "Uma alteração ao actual quadro legislativo com uma clara política de incentivos";
2.º - "A aposta num quadro regulamentar mais adequado e flexível";
3.º - A criação de uma escola/academia nacional de arbitragem ou Direcção Técnica de Arbitragem no sentido de "centralizar toda a operacionalidade" do sector;
4.º - A implementação de um Plano Nacional de Formação;
5.º - A concepção de um curso inicial com recurso ao sistema e-learning. "Seria uma boa alternativa para todos os que, à distância, queiram ingressar neste curso".
6.º - A introdução de cursos de II e III níveis;
7.º - A criação de estágios curriculares por nível e com acompanhamento de um tutor;
8.º - A extensão do "Programa de Talentos e Mentores" tendo em vista a detecção de novos talentos;
9.º - A implementação de um Plano Integrado Nacional de Aproveitamento Técnico;
10.º - A profissionalização do sector.

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